Por Paulo Briguet
O padre que ouviu a última confissão de Olavo de Carvalho confidenciou a um amigo do filósofo: “Naturalmente não posso revelar o que ele me disse, mas posso garantir a você que jamais ouvi uma confissão tão sincera e profunda. Tenho certeza de que aquele homem está no Céu”. Desse modo, é bem possível que Olavo não tenha entrado no Céu como imaginava — “Entra agora que não tem ninguém olhando, Olavo!” —, mas pela porta da frente. Podemos supor que o professor esteja lá agora, pedindo à Virgem Maria que interceda por nós e nos impeça de fazer demasiadas besteiras. É claro que é mais difícil acertar sem a presença dele, mas os 33 livros, as 538 aulas do COF, as dezenas de cursos, os inúmeros vídeos e postagens e, acima de tudo, as recordações que trazemos na alma ajudam, e muito. Olavo tem razão — e não vamos conjugar esse verbo no pretérito.
Há exatamente um ano, Olavo partia. Como tudo em sua vida, a data de sua morte é bastante significativa: 24 de janeiro, Dia de São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja, padroeiro dos escritores. Um dia antes de 25 de janeiro, que marca a conversão do apóstolo São Paulo no caminho de Damasco. Olavo representou, para uma geração inteira de intelectuais brasileiros, um modelo de conversão intelectual e espiritual, a mudança de coração de cuja existência Henry Miller duvidava nas primeiras linhas de Trópico de Capricórnio.
Sim, a mudança de coração existe, Miller. E ela só acontece quando seguimos Nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, para que o façamos, precisamos contar com o apoio dos grandes homens, santos e heróis. Se o herói se define pela continuidade de seus atos após a morte física, Olavo está perfeitamente enquadrado na classificação.
No Brasil, a realidade continua seguindo aquilo que Olavo previu. Temos um governo ditatorial que pretende estabelecer o seu domínio por meio da rebelião contra Deus, esfacelando os vínculos ontológicos entre a verdade, a beleza e a bondade. Mas, com as lições de Olavo, estamos preparados para lutar essa guerra espiritual. Em meio ao caos reinante, conseguiremos manter a nossa alma ordenada, mesmo nestes tempos em que, como profetizaram os versos de Yeats, “O rito da inocência se afogou;/ Aos melhores falta convicção,/ Nos piores há intensa paixão”.
Fonte: Brasil Sem Medo