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Publicado em: 20/12/22


 

O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) assume em fevereiro a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a bancada ruralista, segmento importante do Congresso Nacional e que representa um dos braços de maior relevância da economia brasileira. O setor apoiou em peso Jair Bolsonaro (PL) nas duas últimas campanhas presidenciais e, de acordo com o deputado, deve agora fazer oposição ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “no que for necessário”.

Lupion disse que o segmento tem “afinidade ideológica” com Bolsonaro e assegura que no governo do atual presidente diversas conquistas foram obtidas, como a abertura de mais mercados no exterior, o enfraquecimento de movimentos sociais e o aumento da segurança no campo.

Disse que vê com bons olhos alguns dos nomes cotados para assumir o Ministério da Agricultura da gestão petista, como o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) e o deputado Neri Geller (PP-MT). Lupion afirma que outro nome cotado, o do também deputado Sérgio Souza (MDB-PR), “seria um sonho” para o setor. Souza é o atual presidente da FPA.

Lupion é crítico à PEC fura-teto, considerada por ele um “cheque em branco” para Lula e que tem, segundo ele, o defeito de assegurar poucos recursos ao agronegócio.

O futuro presidente da FPA disse ainda que a bancada apoia a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara e que enxerga o setor dividido em relação à disputa para o comando do Senado – parte dos parlamentares defende a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), enquanto outros preferem Rogério Marinho (PL-RN).

Leia abaixo a entrevista concedida por Lupion à Gazeta do Povo.

O senhor apoiou Bolsonaro, assim como a maior parte dos membros da bancada ruralista. A FPA vai ser uma entidade de oposição ao governo Lula?

Pedro Lupion: No que for necessário, sim. No que for possível, não. O nosso papel é de proteger o setor, de defender os interesses de um setor da economia. Nós somos a bancada ruralista, a gente tem que defender o produtor rural. No que tiver ataque ao nosso setor, seja no direito à propriedade, seja em legislação, seja em prejuízo aos avanços do nosso setor, a gente tem que reagir. Agora, é óbvio que nossa responsabilidade como políticos lá é a criação de pontes para, obviamente, ter um relacionamento melhor e atingir nossos objetivos. Mas, se radicalizarem, a gente também tem que radicalizar.

Por que o governo Bolsonaro foi tão favorável ao agro? Por que o apoio maciço do segmento ao Bolsonaro?

Primeiro, por alinhamento ideológico claro. Acho que a grande maioria da FPA, na época e até hoje, tem um alinhamento ideológico um pouco mais à direita. Então havia essa tranquilidade. Quando Bolsonaro foi eleito, ele inovou; foi atrás das bancadas temáticas pedir apoio para formação de ministérios, e naquele momento achou-se por bem indicar a Tereza Cristina para ser ministra da Agricultura, que fez um belíssimo trabalho. Foi elogiada por todo mundo.

Então é óbvio que, como na época ela era a presidente da FPA, nós acabamos tendo uma ligação muito forte com o governo, inclusive dentro do Ministério da Agricultura. O Ministério do Meio Ambiente acabou tendo uma boa relação conosco também. Não foi um “libera geral”, mas nós conseguimos discutir ações e avançar em alguns temas.

A questão de direito à propriedade e reforma agrária mudou completamente o perfil. Deixou de ser politizada para ser algo de titular efetivamente os assentados, e tirar essas pessoas de movimentos sociais, dando a elas o título da priopriedade para elas serem produtores rurais de verdade. Isso tudo a gente tem que aplaudir, tem que elogiar.

É óbvio que não se espera esse mesmo tipo de relacionamento com o governo do PT. Até porque a campanha eleitoral deixou isso muito claro. Nós fomos atacados algumas vezes, criticados outras, mas até agora o governo [Lula] tem tentado de alguma maneira demonstrar uma certa disposição de diálogo. Em alguns atos não, em algumas situações tem pisado na bola com a equipe de transição, mas tem sempre tentado não ir para o confronto direto.

Qual é o espaço que a esquerda tem na bancda? A esquerda não participa hoje da FPA por que não quer ou por que não seria bem recebida?

Porque não quer. Porque pensa diferente da gente. A esquerda até tem uns parlamentares na FPA – tem do PDT, tem do PSB, tem parlamentares que apoiaram o Lula e são da FPA. É o caso do Neri Geller, do Marcelo Castro (MDB-PI), da Kátia Abreu (PP-TO), do Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que é meu vice-presidente eleito. Não existe esse problema. Não há uma proibição para alguém participar da FPA.

Mas é óbvio que, quando se trata de política de agronegócio e de produção, a gente está falando de direito à propriedade, de multinacionais, de um setor que depende muito de política externa. E isso faz com que o raciocínio, principalmente no que se defende de política de mercado, e de economia, seja diferente.

Como o senhor avalia o trabalho, em relação ao agro, da equipe de transição governamental?

A transição é comandada por algumas pessoas que são da bancada. O senador Fávaro, o deputado Neri Geller e tantos outros que são do nosso convívio pessoal. Eu não gostei do material que foi divulgado [relatório feito pela equipe de transição, que criticou a atuação do governo Bolsonaro para o setor]. Me assustou um pouco o desmantelamento do Ministério da Agricultura, colocar a agricultura familiar lá no Desenvolvimento Agrário, tirar florestas plantadas do agro e colocar no Meio Ambiente. Mas são todos temas que dá para debater. Dá para discutir. Eu acho que são pessoas que entendem do setor e que foram bem preparadas para aquele momento para fazer um raio-X do que está hoje no nosso agro.

Agora, tem muitas coisas que a gente tem que proteger e não pode perder. Por exemplo, nós abrimos mais de 200 mercados internacionais que nós não tínhamos. Ou seja, houve um avanço com a última gestão do Ministério de Relações Exteriores, do Itamaraty, de nós colocarmos adidos agrícolas em todas as embaixadas, em trabalhar para vender a imagem do Brasil e do agro para fora.

Então são temas que a gente precisa defender sempre para que não perca tudo aquilo que foi avançado nos últimos quatro anos. Aí assusta um pouco o relatório que foi apresentado. Mas isso tudo dá para a gente ir convivendo, debatendo, discutindo. E, no que depender da gente no Congresso, defender os interesses do setor.

Crédito: Gazeta do Povo

 

 

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