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Publicado em: 27/01/23


O militante comunista Cauê Araújo e o professor Rodrigo Ianhez estão criando uma agência de turismo para apresentar as ex-repúblicas soviéticas aos brasileiros. Aos brasileiros de esquerda, é claro. “De camarada para camarada”, como eles têm divulgado. Porém, Cauê garante que a agência atenderia qualquer pessoa interessada em seus roteiros. As primeiras viagens estão previstas para o período entre março e maio deste ano.

Pouco a pouco, eles pretendem atingir as 15 repúblicas ex-soviéticas (Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e  Uzbequistão). E, claro, a região onde ficava a Alemanha Oriental, dominada pelos soviéticos após a Segunda Guerra Mundial.  No futuro, também devem ofertar viagens para países ainda dominados por ditaduras de esquerda, como China, Coreia do Norte — que Cauê chama de “melhor Coreia” — e Cuba.

Cauê Araújo é militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), bibliotecário de formação, produtor, gestor da Ruptura Editorial e também do Classe Esquerda, um site de formação política que oferta cursos como “Feminismo Marxista” e “Introdução ao Marxismo Revolucionário”, este último lecionado por Jones Manoel, um dos principais nomes da esquerda radical brasileira. Jones Manoel, inclusive, é amigo de Cauê e recebe seu auxílio para gravar seus vídeos do YouTube, e deve participar de várias viagens da agência como especialista.

Já Rodrigo Ianhez é um historiador que trata do período soviético, formado pela Universidade Estatal de Moscou (cidade em que ele mora desde 2011) e possui uma página chamada “Guia Rússia” no Twitter e no Instagram. A parte didática da viagem será de responsabilidade de Rodrigo, que já atua como guia turístico e intérprete nos países ex-soviéticos. Cauê também já conhece a região, mas cuidará da parte administrativa do negócio.
A ideia da agência de turismo surgiu em novembro de 2022. Outro nome conhecido que vai participar das viagens como especialista é o de Gustavo Nassar Gaiofato, que se apresenta nas redes sociais como “comunista que produz conteúdo sobre História, Política e comenta bobagens com mais frequência ainda.” Ele tem um canal no YouTube com 220 mil inscritos, o “História Cabeluda”.
Visita à sede da Stasi
Os primeiros pacotes da agência têm como destino a Alemanha, mais especificamente a região da antiga Alemanha Oriental; a Armênia e a Geórgia, estes dois últimos num único pacote de viagem. A agência tem a pretensão de levar 15 turistas por viagem, e cada uma delas deve durar 15 dias. Cauê promete que sua equipe cuidará de tudo: passagens até os países, hospedagem, transporte nos roteiros e guia turístico e histórico.

Cauê também garante que os turistas terão contato com os moradores de cada nação e que ouvirão deles como realmente era nos tempos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Quanto a isso, ele admite, discretamente, que as experiências seriam com aqueles que sentem saudades da URSS: “Se você escuta sobre o Brasil de um bolsonarista, a perspectiva é uma. Se você ouve de alguém como eu, a visão é outra.”

A cidade de Gori, na Geórgia, se destaca no roteiro das viagens. É a terra natal do ditador soviético Josef Stalin. Localizada 86 quilômetros a oeste da capital do país, Tbilisi, a cidade conta com o Museu Josef Stalin, que exibe itens da vida do ditador, a casa onde ele nasceu e viveu até os sete anos de idade, e também um vagão de trem blindado que ele utilizava para viajar na Segunda Guerra Mundial. Em Berlim, na Alemanha, os viajantes vão conhecer a antiga sede da Stasi — a polícia secreta da Alemanha Oriental —, onde hoje funciona o Stasimuseum, um museu e centro de pesquisa sobre o sistema político da Alemanha comunista.
Além dos monumentos soviéticos, a dupla também quer levar os turistas às belezas naturais e outros monumentos históricos de antes dos comunistas, e contar os marcos históricos mais importantes de cada país. Um exemplo seriam as fontes termais do rei Vakhtang, em Tbilisi, na Geórgia. E Yerevan, a capital da Armênia, uma das cidades mais antigas do mundo e a primeira a adotar o Cristianismo como religião oficial, em 301 d.C.

Estrela Vermelha
Por enquanto, Rússia e Ucrânia estão fora dos roteiros por causa da guerra. Para a Alemanha, Armênia e a Geórgia, as burocracias da viagem são as mais comuns, mas nenhuma exige visto para os brasileiros. Além disso, também é preciso fazer um seguro viagem. Por outro lado, quando a agência operar viagens para a Coreia do Norte, será preciso fazer uma parceria com a ditadura do país. Também seria necessário o auxílio de um guia local, necessidade que também se repetirá na China.

No segundo semestre deste ano, Romênia e Bulgária devem se juntar à lista de destinos da agência, que ainda não tem nome oficial, mas provavelmente se chamará Estrela Vermelha, em homenagem ao símbolo presente na maioria dos monumentos soviéticos. Em 2024, a China deve fazer parte dos destinos.

Até agora, Cauê e Rodrigo não definiram os valores dos pacotes que irão ofertar — mas um voo para Tbilisi atualmente pode custar até R$ 11,5 mil, e um pacote turístico para Azerbaijão, Geórgia e Armênia cerca de R$ 30 mil. Como ainda estão lidando com os trâmites da abertura da empresa, preferem não divulgar estimativas de valor, já que os preços das passagens estão mudando rapidamente. Mas as viagens devem partir de São Paulo e eles pretendem contratar alguém para acompanhar os viajantes na metrópole.

Como se vê, as viagens para os antigos territórios soviéticos não são nada baratas. Mas Cauê garante que sua agência tentará ofertar preços camaradas. “E vamos parcelar em quantas vezes for possível.” Ainda assim, fora do alcance do poder aquisitivo da maioria dos brasileiros.

O início das viagens está previsto para o período entre março e maio porque os fundadores estão lidando com a burocracia de abrir uma empresa. “O Brasil é muito bom para os grandes empresários. Os pequenos são abandonados”, lamenta Cauê, que tem esperança de que as coisas melhorem para os pequenos empresários com a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O legado de Lula, porém, é de eleger grandes empresários para serem seus campeões nacionais graças a vultosos empréstimos feitos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Fonte: Gazeta do Povo

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