(Reportagem publicado no Portal de Notícias Patachopress em 9 de outubro de 2024)
Pescador desde os oito anos de idade, o ”seo” José Augusto dos Santos, 76 anos, neto de escravo, tem uma outra habilidade: a de construir jangadas. De suas pequenas mãos nasce um instrumento de trabalho para desafiar o gigantesco e misterioso mar.
Nascido em Japaratinga- município alagoano de praias paradisíacas -, onde mora até hoje, conta que perdeu as contas de quantas delas colocou no mar.
Foi observando outros pescadores é que aprendeu fazer as jangadas, segundo disse ao Patachopress , enquanto trabalha construindo uma delas de 4,10 metros e que, em breve, estará pronta para ser utilizada.
Ele explica que a maior construída foi de 6 metros e levada para Porto de Pedras, utilizada pelo proprietário para travessia do rio, fazendo transportes. Foi a única, segundo ele, na qual ”botou preço”.
As demais foram feitas para uso próprio ou destinadas a algum colega pescador.
A que ele está construindo atualmente é ”recheada” de isopor e, como as outras, terá motor. Diferentemente daquelas do seu tempo de criança (tipo grade feita de toras de madeiras amarradas entre si). Se fosse cobrar por ela, o preço seria de R$ 3,5 mil. O tempo de uso é de sete anos, segundo ele.
”Seo” José Augusto, neto do africano José que recebeu o sobrenome da região Bitingui (do tupi “guabitinga – miri”, rios dos caranguejos”. ), filho de Anunciado Jose dos Santos, falecido aos 99 anos, tem sete filhos. Fala deles, com orgulho.
E como diz a composição de Dorival Caymmi: “A minha jangada vai sair pro mar/vou trabalhar/meu bem querer/ Se Deus quiser/quando eu voltar do mar/ um peixe bom/ eu vou trazer/ meus companheiros também vão voltar/e Deus do céu/Vamos agradecer…/