Paty Oliver de Nioaque estará concorrendo dia 06 de Dezembro a categoria Miss Plus Size…
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Pela primeira vez em Campo Grande mulheres trans e travestis disputam a vaga de mais bela plus size de Mato Grosso do Sul. A categoria para quem sofre o preconceito duas vezes, primeiro pela transexualidade e segundo pelo corpo fora do padrão imposto pela sociedade definem o momento como valorização. Com entrada franca, o Concurso Miss Trans / Travesti MS 2019 acontece no próximo dia 6 de dezembro, na Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul).
Uma das candidatas é a cozinheira Lais Oliveira, de 23 anos, representando a cidade Três Lagoas. Ao Lado B, a participante relembra que teve uma infância complicada e antes de encarar na pele a transfobia teve de lidar com a gordofobia.
Laís saiu de casa aos 13 anos foi acolhida em outra residência e chegou a trabalhar com leilões, onde em fazendas teve os primeiros contatos com a gastronomia. No entanto, chegou a ser demitida ao descobrirem sobre sua sexualidade.
“É claro que com a travestibilidade, as coisas ficaram mais difíceis, mas sempre fui uma criança gorda. Tive fases de muita revolta e até entender que a pressão vinha da sociedade, cheguei ao ponto de deixar de ser trans. Mas fui amadurecendo e aos 18 anos voltei a me harmonizar, voltei a viajar e a correr atrás dos meus sonhos. Sempre tentei fugir da prostituição, mas por não ter o Ensino Médio completo encarei muito empregos, até me tornar cozinheira”, conta.
Esse é o quarto concurso, mas será o primeiro em que a categoria é específica para modelos plus size. No ano passado, Laís conquistou o quinto lugar no Miss MS e, neste ano, conseguiu o segundo lugar.
“Eu espero que esse estilo de concurso venha para ficar. Porque quando disputamos com todos, perdemos visibilidade. A trans plus size tem mais facilidade de se assemelhar a uma mulher cis, mas é preciso ter postura, afinal, a sociedade ainda não está preparada para ser afrontada. Com a questão da travesti eu não sofro tanto, mas com relação a pessoa gorda, sempre vai ter um olhando o que você está comendo. Mas sou feliz sendo assim, não pretendo emagrecer, porque comer é um prazer da vida e não deve ser imposto padrões”, finaliza.
A cabeleireira Lahuanny Oliveira Venâncio, de 32 anos, participa de um concurso pela terceira vez. Para ela fazer parte de uma disputa como essa é uma honra e pela primeira vez se sente representada dentro da categoria.
“Eu sempre participo, gosto, me preparo, mas já teve vezes de me frustrar. Neste ano, as regras para categoria plus size estão impecáveis e estou super feliz. No segundo concurso participei da categoria Diversidade e acabei ficando em quinto lugar. Investi no meu vestido que tinha pedraria vinda do Rio de Janeiro e fiquei bem triste que ele não ganhou como o vestido da noite. Mas estou confiante para este ano”, explica.
A infância e adolescência de Lauany também não foi das melhores e ela lembra de quando era xingado de “viado gordo”. “A minha formação como ser humano não foi muito fácil porque eu passei por muita dificuldade na escola. Meu corpo sempre foi feminino, sempre tive quadril e era xingado de “viado gordo”. Então quando hoje a sociedade de alguma forma, me vê de forma mais importante é muito gratificante. Diante dos padrões da sociedade, com o meu corpo eu nunca poderia participar de um concurso de modelos, mas graças ao avanço do Brasil isso é possível. É valoroso você poder ser vista com olhos mais bondosos. Eu sempre fui uma pessoa muito militante e enfrentei muito sofrimento, mas depois de me sentir muito insegura, estou feliz com o concurso”, garante.
Hoje aos 40 anos, Patrícia Oliveira, a Jojo Leite Ninho, admite já ter ido do luxo ao lixo, mas sempre driblando o preconceito com sorrisos. Famosa no Instagram, a modelo tem mais de 28 mil seguidores.
“As pessoas me julgam porque eu confesso: já fui terrível. Fui criada nas Moreninhas e sempre estudei na Escola Municipal Professor Aldo De Queiroz. Sofri preconceito sim, mas ainda acho que o maior problema do bullying está dentro da comunidade LGBT. Sinto que ainda somos desunidos. Mas independentemente do que as outras pessoas pensam, aprendi com a minha mãe que a gente só precisa de um quarto e um chão para agradecer ao criador”, afirma.
Patrícia conta que já pesou 290 quilos, mas sempre se achou bonita. Para ela, esse é um momento de glória para quem vive diariamente com o preconceito da sociedade. “Lógico que tem a saúde. Mas é fechar a boca e cortar coisas que não fazem bem. Independentemente de ser mulher ou trans, se você não se amar, não poderá amar alguém. E quando sou criticada e julgada, rebato com sorriso. Nunca rebati com violência. As pessoas acham que eu me acho, mas não me importo com a sociedade, porque ela não paga as minhas contas”, finaliza.
Representando Nava Alvorada do Sul, Dayane Vasconcelos, de 29 anos, é a candidata camponesa. Integrante do “Coletivo LGBT Sem Terra”, Dayane é mais uma mulher trans que lida, diariamente, com o preconceito. Mas nada a deixa abalada. Desde criança, ela percebeu que não se identificava com o gênero que nasceu.
“Me via no corpo errado e a partir do momento que eu coloquei para fora eu tive que aprender a lidar com o preconceito. As pessoas nessa sociedade tem de aprender a olhar o outro lado da moeda. A sociedade não sabe se pôr no lugar no outro. Sou Sem-terra, camponesa, levo as bandeiras que dão visibilidade às mulheres trans camponesas. Minha formação e o campo me tiraram da prostituição”, relata.
Dayane também foi a primeira mulher trans de sua comunidade a se graduar em uma universidade pública.
Depois de dois anos sem participar de concursos, ela decidiu se candidatar novamente com a organização da ATMS. “Eu estava desanimada. Quando tinha o miss gay, o público ia para ver os gays e as drags montadas. Acredito que ia um grupo favorável aos gays e as trans e travestis ficavam na invisibilidade. Foi uma mudança muito importante porque a Associação nos representa, tem foco e transparência”, garante.
À frente da organização, Cris Stefanny Vidal Venceslau, atualmente, presidente da ATMS (Associação de Travestis de Mato Grosso do Sul), explica que toda e qualquer forma de demonstrar qualidades, são momentos de glórias. “Visto as ações e investidas diárias que a maioria da sociedade apregoa contra nós, sempre nos colocando como marginais, tentando nos negativar, poder mostrar a qualidade é uma vitória”, comenta.
Cris frisa que esta será a 11° edição do concurso, mas será a segunda realizada pela ATMS. “O concurso era realizado por uma pessoa que já trabalhou na ATMS, mas resolvemos reivindicar a organização visto que era realizado junto com o Miss Gay e havia uma invisibilidade da nossa existência, pois os jornais e meios de comunicação anunciavam como concurso de beleza gay apenas”, lembra Cris.
Neste ano, concorrem oito candidatas ao Miss Trans/Travesti MS – 2019 e cinco candidatas ao Miss Plus Size Trans/Travestis MS – 2019. A reportagem tentou contato com as demais concorrentes plus size, mas não obteve retorno.