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Publicado em: 06/06/23


Quem vê o sorriso largo no rosto do apicultor Otávio de Jesus Alves, 39, não imagina as dificuldades que ele e a mulher Nice, 38, passaram para conseguir alimentar os três filhos.

Baiano de Ruy Barbosa, município localizado na região da Chapada Diamantina, a cerca de 300 quilômetros de Salvador, Otávio vivia de pequenos trabalhos e da coleta de reciclados quando conheceu a apicultura e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

A vida não era fácil quando a “catação” de reciclados era a única fonte de renda do casal. Por necessidade, Otávio resolveu seguir os conselhos de amigos. Na cara e na coragem, sem técnica e nem conhecimento, partiu para uma aventura totalmente desconhecida: a criação de abelhas.

“Meu menino encontrou uma mesinha usada e chegou todo feliz em casa. Disse que ia colocar no seu quarto. Eu falei: ‘não, filho, vou usar para começar a criação de abelhas’. Cortei, montei, capturei um enxame e comecei minha produção”, afirma Otávio.

imagemOtávio com a técnica de campo Laurícia Nascimento e a caixa número 1 onde tudo começou.

A família ampliou o número de caixas e apesar da boa vontade, não havia meios da atividade deslanchar.

“Não consigo explicar, não tenho palavras para dizer o que o Senar fez na nossa vida. Naquele início de produção, a gente não saia de 14 caixas, quando completava 15, um enxame ia embora, ou as abelhas morriam. Tomei muita ferroada no início. Tem que apanhar primeiro para aprender, não é? Depois dos ensinamentos do curso do Senar, tive uma média de 35 caixas e aí não parei mais, a produção foi só aumentando.”

O aumento na produção de mel significou envolver toda a família, até o genro que morria de medo de ferroadas. “Na primeira colheita, soltamos fogos, foi muito bom”, diz.

Mas o caminho não foi fácil e, até a produção engatar, Nice conta que por várias vezes pensaram em desistir. “Já passamos necessidade, mas isso mudou e agora está muito melhor.”

Assistência Técnica e Gerencial – A visão empreendedora e a vontade de melhorar de vida fez o casal procurar a ajuda do Senar novamente e, em 2021, começou a receber Assistência Técnica e Gerencial para complementar o conhecimento em apicultura.

E não só o conhecimento, mas melhorar também o gerenciamento da propriedade por meio de uma metodologia inovadora. E gratuita. A técnica de campo do Senar Laurícia Nascimento conta como foi a troca de conhecimento com Otávio. “Ele faz tudo com amor. Tudo que faz é pensado e o resultado nos motiva. Ele me motivou a estudar mais para poder ensiná-lo.”

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Laurícia se emociona ao falar do seu trabalho na propriedade. “Eu não chego aqui como uma estranha que vem realizar um trabalho e pronto, faço parte da estrutura. Sou mais um membro que seu Otávio acolheu, um membro da família dele. Dá muito orgulho estar em um ambiente desses.”

A partir dos conhecimentos adquiridos com o Senar, o produtor aprendeu a fazer divisões de abelha, a colher pólen, própolis, colheita feita duas vezes ao ano em duas floradas diferentes, explica a técnica de campo.

“Em uma região predomina espécies como pau de fuso, calumbi, aroeira, malva canela de juriti e rama de cabra. Ou seja, é um mel proveniente de diversas flores, o chamado mel silvestre. Na outra, predomina a florada do cipó uva, um mel mais claro, saboroso e com mais valor no mercado”, ensina a técnica do Senar.

A produção mais que dobrou em um ano, passando de 400 quilos de mel para um pouco mais de uma tonelada no período de dois anos de assistência técnica. O resultado é que, agora, o produtor possui 120 caixas e quatro apiários.

“Hoje, para mim, o céu é o limite. Depois da assistência técnica do Senar, quero vender mel envasado em supermercado, própolis, pólen”, afirma Otávio.

Pedaço de chão – Com as vendas do mel, a família conquistou o tão sonhado pedaço de terra. O nome não poderia ser mais sugestivo para a localidade: sítio “Nosso Sonho”. No terreno, eles construíram uma casa de taipa, mas assim que as coisas começaram a melhorar veio finalmente a casa de alvenaria.

imagemPrimeira casa construída no sítio.

“Eu sonhei com esse pedaço de terra por 10 anos e chegou o dia em que a gente pôde comprar. Não é um sonho só meu, é de toda minha família: de mãe, pai, filhos, para estar nesse pedaço de terra aqui.”

O produtor considera o apiário do sítio “Nosso Sonho” uma espécie de berçário onde chegam enxames e onde ele guarda as caixas-isca. Lá, o apiário já atingiu sua capacidade de caixas e, agora, o produtor tira abelhas para abastecer os outros apiários.

imagemA família na nova casa.

Além da casa nova, o mel também proporcionou outras vitórias à família e aos filhos Alessandro (20), Graziela (18) e Clarice (13) como, por exemplo, a compra de uma moto que facilitou os deslocamentos entre o sítio e a cidade para a entrega do mel. “Comprei a moto na terceira vez que vendi o mel”, diz Otávio.

As filhas do casal ainda estão na escola. Clarice cursa a 8ª série do Ensino Fundamental e Graziela está n 3º ano do Ensino Médio. A timidez das duas não impede que ambas digam que, agora, não falta nada dentro de casa. E recordam da época em que moravam na casa de taipa, que era pequena para o tamanho da família.

“Antes não dava para comprar muita coisa, sempre ficava faltando algo. Aí meu pai entrou na apicultura e melhorou muito mais nossa vida”, afirma Clarice. “Agora temos uma casa incrível, maior, e não falta nada. A gente melhorou muito de vida.”

Para Graziela, ter o próprio quarto na casa nova significou muito, agora que é casada e o marido Francisnei também ajuda na produção de mel. “Eu não tinha meu próprio quarto. A gente tem televisão, tem celular, tem internet e tem saúde.”

imagemOtávio com a esposa Nice.

Já o filho mais velho, Alessandro, 20, começou ajudando os pais na reciclagem e na “lida com as abelhas”, mas decidiu seguir seu caminho ao sair de casa para trabalhar com cavalos.

“O sonho está realizado em parte porque tenho ainda sonhos pela frente e vou conseguir realizar”, afirma o produtor de mel.

Relacionamentos – Com as coisas melhorando em casa, a relação entre os membros da família também mudou.

“Às vezes a gente discutia pela falta de dinheiro para comprar comida, você perde a cabeça né? Hoje não”, diz Otávio e se emociona. “Minha história hoje é de superação, de onde eu vim, das coisas que passei, e hoje poder estar aqui. O Senar não é só um nome, acompanha a gente”, diz.

Para ele e para a esposa, saber que o mel deles chega à mesa de milhares de pessoas traz uma alegria adicional.

“A sensação de que meu mel chega a muitas mesas por aí é inexplicável”. Nice completa a fala do marido destacando o orgulho do produto. “A gente se sente até importante. Nunca imaginei que minha vida fosse mudar assim com as abelhas, produzindo tanto mel. É emocionante. Hoje a gente tem condição de dar uma vida melhor para nossa família.”

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A paixão pelas abelhas tem entusiasmado até os amigos do apicultor. “Tenho amigos que têm um pedaço de terra e têm vontade de criar abelha. Eu indico o Senar porque sozinho a gente não faz nada. Indico para que possam se qualificar, assim como eu me qualifiquei, e chegar até aqui.”

As ferroadas do início da produção de abelhas fazem parte de uma jornada de esforço, ensinamentos, persistência, aprendizados. Otávio, Nice e os três filhos ainda têm um longo caminho pela frente, mas uma parte dessas conquistas pode ser vista lá na propriedade em Ruy Barbosa. Ou, como eles preferem chamar, sítio “Nosso Sonho”.

 

 

Fonte: Senar

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