O escultor dos dinossauros de Nioaque, João Xavier, fez mais uma escultura para o município que fica a 185 quilômetros de Campo Grande. Desta vez, realizou um sonho de infância e esculpiu um dos heróis da Guerra do Paraguai, o coronel do Exército Brasileiro Pedro José Rufino, que é o seu trisavô. A obra foi inaugurada em setembro em comemoração ao bicentenário do nascimento do militar, em 2016.
Xavier faz parte de uma tradicional família de descendentes de Rufino. Cresceu ouvindo histórias do trisavô homenageado até hoje pelo Exército Brasileiro, pelo qual serviu durante a guerra. Das histórias contadas na infância pelas tias-avós, netas do coronel, nasceu no artista a fascinação pelo herói, mas o que de fato o marcou foi o que teria sido uma aparição há alguns anos em ruínas da guerra, no município.
‘Aparição’
“Eram umas 15h30. Eu fazia uma caminhada e vi dois cavaleiros. Eram dois soldados. Eles vieram e me falaram que o coronel os havia mandado cuidar de mim naquela região. Aquilo era surreal e muito esquisito. Eles me acompanharam até outro ponto aqui da cidade. Ali onde eu estava era um local de grande perigo durante o conflito com os paraguaios”, conta Xavier.
A Guerra do Paraguai durou quase seis anos. Foram entre 50 e 60 mil brasileiros mortos nas batalhas ou vítimas de doença. Além disso, estima-se que 300 mil paraguaios tenham morrido na guerra. O conflito, que contou com a tríplice aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai, é considerado o mais sangrento entre os países sul-americanos.
praça da cidade (Foto: João Xavier/Arquivo Pessoal)
Escultura
Com o sonho do menino fascinado pelas histórias e a suposta aparição relembrada por ele, Xavier escupiu o avô de terceiro grau em dois meses. Ele conseguiu reproduzir o rosto do coronel a partir de uma figura do livro “A retirada da Laguna” de Visconde de Taunay, outra personagem importante que testemunhou o conflito.
A estrutura foi começada em armação de ferro e concreto até o encaixe da cabeça construída com resina. Todo o trabalho foi feito em casa e um guincho fez o transporte ao final. O coronel montado em um cavalo agora fica na praça da cidade de pouco mais de 14 mil habitantes, que foi um dos palcos da guerra na segunda metade do século XIX, e onde o coronel viveu até a morte, segundo o escultor. O local virou morada do herói marcado pela participação no episódio da retirada da Laguna e protagonista das histórias da infância de Xavier.