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Publicado em: 04/07/23


Reeleito para o segundo mandato, o deputado federal Dr. Luiz Ovando (PP) é conhecido por sua sinceridade e declarações polêmicas. Médico cardiologista, o parlamentar faz atualmente parte da oposição, por ser alinhado com as ideias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

No começo deste ano, envolveu-se na polêmica dos indígenas yanomamis ao falar, durante uma entrevista ao vivo para um canal de televisão, que não eram brasileiros. Apesar da repercussão negativa, o deputado mantém a posição firme sobre a nacionalidade e território desses povos originários.

Chegou a integrar a lista do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, quando foi solicitado na PGR (Procuradoria-Geral da República) a suspensão da posse de deputados bolsonaristas, por envolvimento nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, em Brasília.

Ao Campo Grande News, Luiz Ovando abre o jogo e diz o que pensa sobre política, medicina e planos. Revela, inclusive, bastidores da última eleição. O médico tem se reafirmado na Câmara dos Deputados como um democrata cristão, defensor da família e da vida. Confira a entrevista na íntegra.

Campo Grande News – Com bandeiras conservadoras, como o senhor avalia seu novo mandato em um governo de esquerda?

Luiz Ovando – De uma maneira geral essas defesas a gente continua. Os princípios e valores a gente não abre mão deles. Então, quando a gente fala valorizar a vida, eu acho que não tem ninguém em sã consciência que seja contra a vida. O que acontece infelizmente são determinadas posturas e determinadas bandeiras de grupos sociais que são a favor do aborto, são a favor de casamento homoafetivo, que não frutifica. Por exemplo, eu não tenho absolutamente nada contra a relação homoafetiva, mas não tem minha simpatia, jamais eu vou conseguir defender esse tipo de relação, embora eu respeite o ser humano. Aborto é um contrassenso da existência humana, embora a sociedade tenda a proteger esse tipo de situação.

O senhor apresentou um projeto para aumentar o tempo de permanência dos jovens infratores. Qual a justificativa?

Vivemos uma fase de vulgarização do relacionamento humano. Nós vivemos uma família hoje disfuncional. Na sociedade, tudo que acontece simula exatamente as funções que existem no universo. Uma família, na minha visão, é o laboratório da vida e da transformação. O relacionamento biológico do homem e da mulher é sempre o nascimento de um novo ser que precisa de tranquilidade, de estrutura, e, infelizmente, nós estamos numa sociedade onde a família está sendo deixada de lado e, de uma maneira geral, se investindo em coisas. As pessoas estão sendo coisificadas e as coisas estão sendo personificadas. Então isso tem levado a uma deturpação, uma degeneração do produto que é o ser humano. O menor infrator age de forma errada porque não tem exemplo. Ele não é valorizado, não é considerado, é desprezado como um ser humano em fase de crescimento, aí ele agride a própria sociedade.

Então, se o delito for grave, ele chegou na fase dos 21 anos, que ele tem que ser colocado fora, mas que ele fique mais três anos até os 24 anos. Que o tempo de reabilitação não passe de seis anos, e que com isso ele consiga pelo menos ter um referencial para reconsiderar e recomeçar a vida. A gente espera que esse projeto ajude a sociedade.

Como bolsonarista raiz, qual sua análise dos primeiros meses de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?

Eu torço pelo meu país. Eu já torci muito pelo Lula lá atrás, acreditando no Lula, mas eu vi que ele não era isso. Eu não sou contra o Lula, eu sou contra a dissimulação, a ideologia que ele defende, aquela situação toda de mentira. Ele fala uma coisa, depois diz que não falou, enfim, esse tipo de distorção eu sou contra. Mas eu torço pra que ele dê certo, porque se ele der certo, o meu país vai dar certo e eu sou brasileiro antes de qualquer coisa. Mas existem outros caminhos. O Lula tem uma linhagem socialista em que ele acha que o Estado tem que ser hipertrofiado, eu defendo uma linhagem que é exatamente o liberalismo e que eu acho que você tem que criar condições para as pessoas desenvolverem o seu potencial e isso a gente chama de autocontrole. Então eu não sou contra Lula, não sou a favor de Bolsonaro, eu sou a favor de condições que as pessoas possam desenvolver o seu potencial, sem criar animosidade nem concorrência desleal.

Dentro do escritório do parlamentar, em Campo Grande, o patriotismo estampado nas bandeiras do país, do Estado e da Capital. (Foto: Alex Machado)

E o senhor então seria um bolsonarista mais equilibrado?

Exatamente. Eu sou brasileiro, eu quero o meu país bem. Porque se o meu país estiver bem, todos estarão bem. Então essa história de falar, não, socialista. O socialista ele é estragado, ele tá vendo o presidente dele ser condenado, mentiu e tal, mas ele continua defendendo. Quer dizer, eu não posso abraçar isso e eu sou muito crítico em relação ao Bolsonaro em alguns aspectos, embora ele tenha feito a diferença política nos últimos dez anos deste país. Existe uma fase antes do Bolsonaro e depois do Bolsonaro. Embora ele tenha feito um monte de impropérios, de se falar de uma série de coisas indevidas. Mas é o indivíduo que alertou a população para que verdadeiramente ela possa saber o que ela está fazendo como cidadã.

O que o senhor acha do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter votado pela inelegibilidade do Bolsonaro?

Esse é um grande problema que estamos vivendo nesse país. Foi um julgamento político. O que mais me preocupa é que os órgãos que deveriam zelar pela aplicabilidade da ciência jurídica desse país estão calados. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não fala nada, a AMB (Associação de Magistrados do Brasil) não fala nada. Ninguém se apresenta, ninguém fala nada. Onde que nós vamos parar? Se quem está mandando no Brasil agora é o Supremo Tribunal Federal ao invés de ser um equilíbrio de forças. O que eu lamento é que o Senado está de joelhos, submisso ao Supremo como eles deveriam equilibrar essa força.

Sobre a CPMI do dia 8 de janeiro, o senhor acredita que dará respostas para a população?

Não. Essa CPMI foi instalada para apurar a verdade. O que houve foi um golpe da esquerda em cima da CPMI. Então nós temos 22 situações e 11 oposição na CPM, é um total desequilíbrio de força. Então você não consegue convocar ninguém para ir depor. A culpa é da direita que não soube aproveitar a situação. Por exemplo, a presidente da CPMI, ela não assinou o pedido de abertura. Nove indivíduos que estão nessa comissão não assinaram. São contra e estão dentro da CPMI. Você acha que vão facilitar o esclarecimento? Não vão.

Eu já vejo que não vai dar em nada. E vai pegar um Cristo aqui, outro Cristo ali pra fazer alguma coisa. Eu espero que eu esteja errado.

Sobre a polêmica do começo do ano, o senhor mudou de ideia em relação aos yanomamis?

Não tinha nada de errado naquilo ali. O território deles é muito grande. E vai da Venezuela a Roraima. A região da mata lá é muito grande e a maior parte é na Venezuela. Não quer dizer que você não deva cuidar do ser humano. O que não pode é pegar e falar que o Bolsonaro é o responsável pela tragédia. Não é verdade. Ele mandou recursos. Agora, por que que não chegou? Essa é a questão.

E outra, como médico, desde 1963 existem trabalhos mostrando que os yanomamis eram tidos como modelo, como padrão de pesquisa e hipertensão arterial. Então a gente já ouvia falar. E existe também ali na área um outro grupo de indígenas, que eles não têm aquele quadro de desnutrição porque a forma cultural deles é bastante ativa e eles plantam, eles colhem e eles são bem nutridos. É uma questão cultural a maneira de proceder.

Com sinceridade, Luiz Ovando tem se consolidado entre os eleitores de direita de Mato Grosso do Sul. (Foto: Alex Machado)

O senhor é contra o programa Mais Médicos? 

Eu sou, em princípio, contra a forma como é feita. Nós precisamos interiorizar o médico, o clínico que resolve, mas isso aí é uma questão inclusive de envolvimento não só do Lula, não só política, mas principalmente da classe médica. E também das escolas médicas que são verdadeiras fontes de ganhar dinheiro e não preparam o indivíduo para atender a demanda da população.

Essa história de que no interior não tem condições é mentira. Você cria condição e vai melhorando. Hoje, nós temos 389 escolas médicas. E como não tem médico então? O cara não vai pro interior porque ele não resolve. Ele fica na cidade grande. E aí você tem cidade como Vitória, 13,1 médicos para mil habitantes e o interior do Piauí 0,7 médico por habitantes. Não vai resolver.

Eu sei porque eu fui para o interior quando eu terminei meu curso de Medicina em 1975. Eu era capaz de operar, de reduzir fratura, hidratar a criança, tratar a insuficiência cardíaca, pneumonia, AVC (Acidente Vascular Cerebral). Eu fiz tudo isso e fui pra uma cidade chamada Iguatemi. Só tinha o quartel e sete mil habitantes. Eu era o único médico da cidade. E eu fiquei lá um ano resolvendo o problema.

Aí fala, nós precisamos de mais médicos, traz cubano. Não resolve. Porque também não está preparado para resolver. E aí o paciente morre, complica, piora.

Nós lançamos recentemente a Frente Parlamentar de Valorização do Clínico e Resgate da Identidade Médica. Porque o médico está escondido hoje atrás das instituições. Esse cara fica encolhido. Você vai no posto, quem te atende é um clínico e você não sabe o nome.

O resgate é você dizer assim: aqui é meu consultório. Eu ponho minha placa ali. E vou trabalhar e você procura pela minha reputação, pela minha competência. O SUS (Sistema Único de Saúde) acabou com isso. Excelente o SUS, não sou contra o SUS. Mas o SUS não precisa agredir.

No socialismo, você nasceu, você não é homem nem mulher, você vai ser o que você quiser daqui a pouco. Agressão à identidade pessoal. Tudo conspira contra a sua identidade no socialismo e no comunismo. Você não existe. Quem existe é o Estado. Isso acontece no meio médico.

Por isso, é o resgate da identidade orgulho de ser médico. Eu me estabelecer, abrir a minha porta e nós conseguimos passar inclusive lá na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pra fazer credenciamento do clínico que quiser atender pelo SUS no seu consultório. Assim, você tira o Estado de lado e resolve o problema.

Qual sua missão na eleição de 2024?

A prefeita Adriane Lopes hoje é do nosso partido e em princípio eu sou defensor da reeleição dela. Ela está fazendo um bom trabalho, é determinada. A gente percebe que ela realmente quer melhorar Campo Grande. Minha intenção é ajudá-la naquilo que for possível.

O senhor acredita que o PP possa também encaminhar a Tereza Cristina no cenário nacional, para 2026?

A Tereza Cristina já se falou várias vezes. Eu inclusive, na época da candidatura do Bolsonaro, eu cheguei e falei pro Bolsonaro, falei ó, uma excelente candidata a vice-presidente, presidente. Os filhos não queriam o Braga Neto, queriam ela. E eu também achava que deveria ser porque ela já tinha um protagonismo importante. Tinha uma projeção nacional bem aceitável, uma pessoa que tinha feito um bom trabalho. E no final ele preferiu Braga Neto. E hoje a Tereza Cristina tem projeção nacional. O presidente nacional do partido, Ciro Nogueira, levantou essa possibilidade sobre ela ser candidata a presidente. Isso aí naturalmente vai depender dela, da família, da situação. Eu acho que ela tem condição, ela tem uma penetração nacional muito boa. É importante que as pessoas tenham contato. O Executivo não consegue governar sozinho, você tem que ter capilaridade para poder conversar.

O senhor já tem planos para a próxima eleição? Pensa em disputar outro cargo, como senador, por exemplo?

Faltam três anos e meio, nós vamos continuar trabalhando e buscando uma coerência, essa é a minha bandeira. E principalmente, eu não consigo mentir pra mim mesmo. E dissimular as pessoas pra enganar. Minha vida sempre foi de luta, sempre foi de enfrentamento com as dificuldades, eu sempre acreditei que a gente consegue vencer desde que você tenha determinação e uma boa causa. E lá na frente vamos ver.

Se não der, eu paro e vou cuidar da minha vida. Já estou velho. Posso me considerar realizado na vida. Sou bem casado há 47 anos, tenho quatro filhos, dez netos. Eu não sabia dançar quando era jovem, aprendi a dançar com minha esposa, já foi uma realização. Me elegi deputado federal depois de 20 anos de luta e me reelegeu agora. Escrevi três livros. Só está faltando uma coisa: ser piloto de avião.

Foto: Alex Machado

Texto: Gabriela Couto

Campo Grande News

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