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Publicado em: 20/06/23


Um estudo multicêntrico realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz do Ceará (Fiocruz-CE), em parceria com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), concluiu que quase 4 em cada 10 pacientes diagnosticados com Covid-19, que passaram por atendimento clínico ou hospitalar e tinham pelo menos uma comorbidade, morreram em consequência da infecção. O diabetes, isoladamente, foi a doença relacionada com maior impacto nos desfechos de morte, seguida da obesidade e, em seguida, da hipertensão arterial. Os resultados do estudo foram publicados nesta segunda-feira (19) na revista científica Frontiers.

 

O objetivo da pesquisa era avaliar o impacto real das comorbidades na mortalidade por Covid-19. Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram as informações depositadas no Sistema de Informações de Covid-19 – uma plataforma do Ministério da Saúde onde eram notificados todos os casos de pacientes diagnosticados com a doença que passavam por atendimento em algum serviço de saúde, público ou privado.

 

No sistema, eram incluídas as informações de saúde do paciente, entre elas, se ele tinha alguma doença ou condição crônica e qual era o seu Índice de Massa Corporal (IMC), valor usado como referência internacional para estipular casos de sobrepeso e obesidade. Também era possível acompanhar o desfecho clínico (se o paciente recebeu alta ou morreu) pela plataforma.

 

Ao todo, os pesquisadores extraíram dados de cerca de 386 mil pacientes (tanto homens quanto mulheres, adultos e idosos) de 6.723 serviços de saúde entre os anos de 2020 e 2022. Dentre esse total, 21.121 pessoas apresentavam ao menos uma comorbidade. Ao cruzar os dados, os pesquisadores constataram que dentro da amostra desses pacientes com comorbidades, 38,7% (8.172) morreram em consequência da Covid-19 e 61,3% (12.943) se recuperaram.

 

 

 

“Esse é um percentual de mortalidade muito alto. O resultado da pesquisa, que analisou uma base de dados muito grande, corrobora as evidências que demonstravam que os pacientes com comorbidades, principalmente diabetes, obesidade e pressão alta, precisam de um cuidado diferenciado porque a evolução deles é pior e podem ter um desfecho ruim”, afirmou José Cláudio Garcia Lira Neto, pesquisador da Fiocruz-CE e um dos responsáveis pelo estudo.

 

Entre as comorbidades avaliadas, estavam:

  • hipertensão arterial
  • diabetes
  • diabetes + hipertensão
  • obesidade
  • diabetes + obesidade
  • doenças respiratórias, cardiovasculares, autoimunes, renais, gástricas, metabólicas, reumatológicas, dermatológicas, hematológicas
  • câncer
  • HIV
  • tabagismo
  • transtornos psiquiátricos
  • dependência química
  • doenças raras

 

“O diabetes foi o principal preditor isolado de mortalidade associado à Covid-19. Em seguida, vem a obesidade, e o estudo reforça a importância de a obesidade ser considerada uma doença crônica que precisa de atenção especial”, afirmou Lira Neto.

 

Desde o início da pandemia, as doenças crônicas foram apontadas como fator de risco para a Covid-19 devido ao número de casos em que pacientes com essas comorbidades necessitavam de internação e acabavam morrendo. “Essas são enfermidades que exigem um gerenciamento longo e contínuo, envolvendo mudanças no comportamento e que, frequentemente, são difíceis de tratar porque são negligenciadas. É possível que haja subnotificação dos casos de obesidade porque é muito difícil constar no prontuário que uma pessoa é obesa”, avalia Lira Neto.

 

Homens e idosos morreram mais

 

Os resultados da pesquisa demonstraram ainda que o percentual de homens (22,5%) com comorbidade que morreu foi maior do que o das mulheres (16,2%), o que também reforça o dado de que as mulheres cuidam mais da própria saúde e procuram mais atendimento médico. Outra constatação do estudo é que os pacientes idosos (29,3%) com comorbidades também tiveram uma taxa de mortalidade mais alta, o que também confirma a informação de que esse grupo possui um maior risco de morte.

 

Para Lira Neto, esses resultados são fundamentais para servir de base para o planejamento de ações de saúde pública e de planos estratégicos de prevenção e atendimento para pessoas que estejam nesses grupos de risco, tanto na prática clínica atual quanto diante de outra pandemia. Serve, por exemplo, para definir grupos prioritários numa campanha de vacinação.

 

“O estudo dá suporte à prática clínica de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde na condução de cuidados e no tratamento dos pacientes nessas condições, auxiliando no desenvolvimento de técnicas, produtos e fármacos que tenham como foco a prevenção e o tratamento dessas condições”, finaliza o pesquisador.

 

Fonte: Agência Einstein

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