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Publicado em: 24/08/23


Preso em 8 de março, na primeira fase da Operação Traquetos, o empresário Florisvaldo de Gaspari Favareto, de 49 anos, foi vigiado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizados) por pelo menos 7 meses para que a equipe considerasse suficientes as evidências de que ele era um dos líderes de esquema de tráfico de drogas que movimentou milhões entre 2019 e 2023. Para a investigação, a oficina do alvo, na Avenida Guaicurus, em Campo Grande, era usada para preparar os veículos usados para o transporte de entorpecentes e armas “à moda antiga”.

Preso em 8 de março, na primeira fase da Operação Traquetos, o empresário Florisvaldo de Gaspari Favareto, de 49 anos, foi vigiado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizados) por pelo menos 7 meses para que a equipe considerasse suficientes as evidências de que ele era um dos líderes de esquema de tráfico de drogas que movimentou milhões entre 2019 e 2023. Para a investigação, a oficina do alvo, na Avenida Guaicurus, em Campo Grande, era usada para preparar os veículos usados para o transporte de entorpecentes e armas “à moda antiga”.

O Gaeco iniciou as apurações em agosto de 2021, após a apreensão de entorpecentes. O grupo especial de investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) trabalhava na juntada de provas contra organização criminosa estabelecida na Capital, mas com ramificações nas cidades de Bela Vista, Ponta Porã, Jardim, Caracol, Nioaque, Aquidauana e Anastácio.

Conforme pedido de prisão preventiva, feito contra “Gaspar” e outros 17 integrantes do bando, em janeiro deste ano, após 17 meses de investigações, “desde o início, em conversas com informantes”, o nome de Florisvaldo aparecia como um das pessoas com posição de chefia no grupo, mas “a participação efetiva” dele “somente foi detectada em fevereiro de 2022”, quando a PM (Polícia Militar) encontrou um Jeep Renegade furtado na oficina do investigado. O carro era equipado com rastreador.

A partir daquele dia, o Gaeco montou campana em frente ao estabelecimento e pelo menos outras três vezes fotografou no local carros posteriormente usados no transporte de entorpecentes.

No dia 6 de junho de 2022, a PM de Bonito, durante fiscalização de rotina, deu ordem da parada ao motorista de uma Fiat Strada branca. Ele fugiu da abordaram e alguns quilômetros depois, fugiu com o passageiro abandonando o carro às margens de rodovia. Conforme boletim de ocorrência, a dupla trabalhava na função de “batedores” de uma carga de drogas e o veículo foi fotografado dias antes, em mais de um ângulo, na oficina de Gaspar, onde, segundo o Gaeco, “foi preparado para participar do ilícito”.

Nos fundos de oficina, Fiat Strada que depois foi abandonada por "batedores" de carga de drogas em rodovia, segundo o Gaeco (Foto: Reprodução dos autos de processo)
Nos fundos de oficina, Fiat Strada que depois foi abandonada por “batedores” de carga de drogas em rodovia, segundo o Gaeco (Foto: Reprodução dos autos de processo)

Pouco mais de um mês depois, em 26 de julho, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) apreendeu uma Chevrolet Silverado vermelha carregando 185 kg de maconha em Jataí de Goiás. Dias antes, o veículo havia sido fotografado em frente à oficina. Para investigadores, indício de que ali estava para ser carregado para o transporte da droga.

O homem preso por tráfico confessou que receberia quantia em dinheiro para entregar a carga em Campina Grande, na Paraíba, e “se negou a informar o nome do contratante”. “(…) ou seja, o veículo esteve ali na oficina de Gaspar naquele dia somente para ser carregado com a maconha, cujo destino era o Estado de Goiás, para onde a organização criminosa geralmente escoava a droga”, constataram os promotores do Gaeco.

Por fim, Gaspar foi fotografado deixando a oficina em S10 no dia 1º de agosto do ano passado. Dois dias depois, o veículo foi flagrado pela PRF na BR-262 porque estava com os sinais identificadores adulterados. Policiais rodoviários descobriram que a caminhonete havia sido roubada em Vila Velha, no Espírito Santo, em outubro de 2021.

“Chama a atenção que o automóvel em questão estava preparado para transportar drogas, estando sem o banco traseiro e com estrutura de madeirite montada para acondicionar os ilícitos. Também havia galões de combustível cheios acondicionados dentro da cabine e a suspensão traseira estava reforçada para o transporte de maior peso”, registrou o Gaeco na sustentação dos pedidos de prisão.

Os promotores anotaram ainda que não passou despercebido durante as investigações que outros dois supostos líderes do esquema “mantinham contato frequente com Favareto, a reforçar sua posição de liderança na organização criminosa”.

Perigoso – Ainda para convencer a Justiça a decretar a prisão preventiva do empresário, o Gaeco sustentou que Gaspar é homem perigoso, porque em diálogo interceptado pela investigação admitiu ter colocado arma na boca de “molequinho” que havia lhe furtado: “rapaz, pistola na boca, moleque chorando, foi sinistro em? Fiquei com dó do molequinho… Ele quis folgar, né?”.

Apreensão em droga em 2021 desencadeou investigação que chegou a 25 pessoas (Foto: Gaeco/Divulgação)
Apreensão em droga em 2021 desencadeou investigação que chegou a 25 pessoas (Foto: Gaeco/Divulgação)

Arsenal – Em março, quando o Gaeco foi às ruas de Mato Grosso do Sul para cumprir 18 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão contra suspeito de integrar a quadrilha, a casa e a oficina de Florisvaldo Favareto foram vasculhadas por equipes da Operação Traquetos, cuja segunda fase foi desencadeada nesta segunda-feira (21).

Na residência, foram encontradas uma pistola 9mm; 66 munições de 9mm; 87 munições de fuzil 5,56; 107 munições de calibre 22; uma luneta e um registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Já na empresa, os policiais encontraram: uma espingarda calibre 12; uma carabina calibre 22; uma luneta; 150 munições de 9mm; 50 munições calibre 22; 50 de calibre 5,56; 25 calibre 12; 14 de .40 e 28 munições de .380.

Segundo a polícia, as munições de calibre .40 e 9mm apresentavam indícios de ilegalidade “por inexistência de autorização legal para posse de munições deste calibre”. Além disso, havia suspeita de que Gaspar matinha em local ilegal uma de suas armas, o fuzil T4.

Outro lado – Em março, o advogado Cairo Frazão, que representou Gaspar, informou que “a maioria dos armamentos encontrados” com o cliente eram legais e que os documentos seriam apresentados pela defesa no momento oportuno.

Patrocinada agora pelo advogado Benedicto Arthur de Figueiredo Neto, a defesa ainda tenta a revogação da prisão preventiva do acusado, alegando que não há motivos para mantê-lo preso com base em “ilações” de que ele “poderá ofuscar as investigações” e que a prisão preventiva, na verdade, provoca “constrangimento ilegal”, uma vez que ele já foi até denunciado à Justiça.

Ainda conforme Figueiredo Neto, a juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal, decidiu pela prisão de 18 pessoas “em apenas duas páginas”, “valendo-se de argumentos abstratos, genéricos e sem qualquer individualização”.

Alegações sobre o envolvimento ou não do cliente no esquema de tráfico não foram apresentadas nos pedidos de liberdade, negados na primeira instância e no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). A defesa foi ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para tentar habeas corpus e aguarda decisão.

A ação penal derivada da Operação Traquetos tramita em segredo de Justiça.

2ª fase – O Gaeco voltou às ruas de Mato Grosso do Sul nesta segunda-feira (21) para prender mais sete suspeitos de integrar a organização criminosa. Foram cumpridos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em Campo Grande, Corumbá e Santana do Parnaíba (SP).

Após quase dois anos de trabalho, o Gaeco denunciou 25 pessoas por atuarem no esquema. O nome da operação faz alusão à “cultura traqueta” dos cartéis de drogas de Medellín e Cali, na Colômbia, onde narcotraficantes “à moda antiga” são conhecidos como “traquetos”.

Campo Grande News

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