No dia 19 de fevereiro de 1976, as centenárias ingaranas (Abarema jupunba) da Rua Y Juca Pirama começaram a cair. Cediam espaço à transformação urbanística promovida pela prefeitura na região que incluía, também, novo nome para uma das mais importantes vias de Campo Grande e a retirada do calçamento feito com paralelepípedos.
Em sua edição do dia 20 de fevereiro, o jornal Correio do Estado trazia como manchete: “Y Juca Pirama perde ingaranas”. As ingaranas são árvores que chegam até 20 metros de altura, produzem vagens cujas sementes, de cores branca e preta, podem ser usadas em
artesanato.
Dizia a reportagem de capa: “A Prefeitura Municipal iniciou ontem os serviços de corte de todas as ingaranas da Rua Y Juca Pirama, que, além de mudar totalmente de aspecto, mudará também de nome brevemente, passando a denominar-se de Rua Cândido Mariano da Silva Rondon. A eliminação total das árvores centenárias, combatida por muitos, mas considerada como imperativo para a resolução dos problemas das constantes enchentes, deverá ocorrer até meados da próxima semana, quando, então, restarão apenas as sibipirunas plantadas nas duas calçadas, ao longo de toda a via pública”. Detalhe: As sipibirunas (Caesalpinia peltophoroides) podem atingir de 8 a 15 metros de altura, têm belo efeito paisagístico, de floração exuberante e boa sombra.
A previsão da retirada das ingaranas era para fim do mês de março daquele ano, para que, em seguida, a prefeitura desse início à colocação de tubos Armco que comporiam a rede de captação de redes d’água e esgotos, beneficiando os moradores de toda aquela região.
Eis um dos trechos da reportagem: “Depois da colocação de todas as redes – água, esgotos e captação pluvial –, a Y Juca Pirama, então já com nova denominação, perderá todos os paralelepípedos, recebendo pavimentação asfáltica e urbanização geral. Os moradores, nessas alturas, terão superados todos os sofrimentos decorrentes das obras e passarãoa residir numa das mais belas vias públicas de Campo Grande”. Paralelepípedos são blocos de granito utilizados em calçamentos.
De acordo ainda com o Correio do Estado, naquela edição do dia 20 de fevereiro de 1976: “Ontem, a Câmara Municipal autorizou a administração municipal a contrair empréstimo junto ao Banco Nacional de Habitação, no valor de 23 milhões: boa parcela destes recursos serão utilizados para a remodelação total da Y Juca Pirama”.
Para a garantia do pagamento (do principal, correção monetária, juros, taxas, comissões, multas e demais encargos financeiros, o Poder Executivo foi autorizado a outorgar ao Banco Nacional de Habitação (BNH) “(…) as quotas que couberem ao Município na arrecadação do Imposto sobre Circulação de ICMS e/ou Fundo de Participação dos Estados e Municípios (FPEM) e os Tributos e Fundos que o substituírem”.
Em reportagem na página 2 da edição, o Correio do Estado informava que a Câmara Municipal aprovou essa autorização para a prefeitura contrair empréstimo em sessão extraordinária. O projeto era de número 1 do Executivo e estabelecia que os recursos estavam destinados à execução “de obras de drenagem da região da Vila Planalto, da Rua Y Juca Pirama e de canalização em concreto armado, dos Córregos Prosa e Segredo (…)”.
Na época, o Correio do Estado previu acertadamente: “A Y Juca Pirama, entretanto, viverá ainda por muitos anos na lembrança de todos os campo-grandenses”.
(Publicada no jornal Correio do Estado no dia 20 de junho de 2016)
Por Fausto Brites
(Da Coluna 40 anos de lida e leads – jornal Correio do Estado)